Fórum Justiça

Seminário sobre precarização e sistema de justiça conta com a participação de professores brasileiros e europeus na UERJ.

30/11/2015

Compartilhe!

IMG_20151125_095048

Professor Guilherme Leite Gonçalves abre a mesa do segundo dia do seminário.

A Faculdade de Direito da UERJ recebeu, nos dias 24 e 25 de novembro, o Seminário “Precarização e sistema de justiça: entre Brasil e Portugal”, com a exposição, no primeiro dia, da prestigiada historiadora social portuguesa Raquel Varela, da Universidade Nova Lisboa. Raquel é uma das mais destacadas pesquisadoras da Revolução dos Cravos e voz crítica aos atuais processos de precarização do trabalho em Portugal em decorrência das políticas de ajuste fiscal e pressões da Troika sobre o país.

Dentre outros pontos, Varela expôs sobre o mito existente em Portugal segundo o qual a Constituição e a democracia representativa nasceram da Revolução e são o muro defensor do Estado Social e dos direitos sociais. Afirmou se tratar de um mito porque, ao estudar cronologicamente os fatos, percebeu que muitos direitos existiam antes mesmo da Constituição. Concluiu também que a democracia representativa, ao contrário, significou o fim da Revolução dos Cravos, tendo sido uma verdadeira contra-revolução. Ressaltou, entretanto, que a Constituição do pacto social contra-revolucionário tornou-se hoje um importante obstáculo à intensificação da exploração do trabalho no país.

IMG_20151125_105609

Magistrado português e doutorando na Universidade Nova Lisboa, Eduardo Petersen debateu os impactos das atuais políticas econômicas nos direitos dos trabalhadores portugueses.

O debate em torno da exposição de Varela se seguiu com a relação desenvolvida por Guilherme Leite Gonçalves, entre os resultados apresentados pela professora portuguesa e a discussão levantada no último capítulo do livro Senhores e Caçadores, de Thompson. Segundo ele, a classe dominante necessitaria se legitimar permanentemente no poder para nele se manter, papel constituído, em última instância, pela forma jurídica. Ao ser percebido como autônomo, o direito poderia cumprir uma dupla função: de legitimar a classe dominante, mas também de restringi-la ao abrir um campo de conflito social a ser utilizado na luta de classe para impor limites, ainda que sempre parciais, à dominação.

Gustavo Siqueira, pesquisador em história do direito na UERJ expôs seu trabalho a respeito do direito de greve durante a Primeira República e o Estado Novo. Para Siqueira, há uma categoria de juristas chamada de “adaptáveis”. Esses seriam aqueles que se adéquam à posição oficial do Estado nos momentos de mudança. Eles fariam uso o argumento da lei como escudo, de forma que se tornam facilmente adaptáveis às ditaduras, por exemplo. Apontou que hipótese comum é a de que não teria havido greve durante o Estado Novo varguista no Brasil. Todavia, mediante o recurso à imprensa operária pôde-se perceber a ocorrência de diversos movimentos grevistas, mesmo quando estavam criminalizados. Ressaltou que, para fugirem da criminalização, mudava-se o rótulo do movimento, adotando-se o termo “paralisação” em vez de “greve”, e que em geral era sobre os comunistas, chamados “vermelhos”, que de fato recaía a repressão do Estado com maior intensidade. Movimentos não ligados aos comunistas possuíam maior liberdade, sob a prevalência do argumento da “cordialidade brasileira”, forte na época.

IMG_20151125_105624

Público formado por professores, estudantes de graduação e de pós-graduação participa das discussões.

O segundo dia condensou as exposições do professor Guilherme Leite Gonçalves, do pesquisador alemão Heiner Flescher e do doutorando e juiz do trabalho em Portugal, Eduardo Petersen.

Gonçalves apresentou sua crítica ao predomínio do pensamento de matriz habermasiana nas faculdades de direito, apontando para a necessidade da retomada dos estudos sobre economia política e capitalismo nas abordagens dos estudiosos do direito.

A exposição de Flescher foi baseada em sua pesquisa de campo na Venezuela, tendo por foco as formas de resolução de conflito emergentes nas comunidades e associações de moradores e trabalhadores e sua interface com os poderes constituídos.

Petersen relatou o contexto atual de precarização das conquistas trabalhistas em Portugal, sendo pessimista quanto à existência de forças sociais capazes de apresentar resistência ao avanço neo-liberal no seu país. Nesse sentido, apontou o paralelo com o Brasil, pais no qual reconhece a atuação de atores políticos ainda capazes de apresentarem saídas alternativas para a crise econômica.

O seminário ainda contou com a presença do professor Alexandre Mendes, de alunos da graduação e da pós-graduação da Faculdade de Direito da UERJ. O Fórum Justiça esteve presente, tendo apoiado a realização desse evento.

Download WordPress Themes Free
Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
free online course
download xiomi firmware
Download Premium WordPress Themes Free
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=