Seminário aborda projetos educacionais quilombolas no Sul-fluminense
O Fórum Justiça (FJ) participou, na última quarta-feira (3/11/2021) do “I Seminário Virtual Palmares nas comunidades quilombolas e nos coletivos urbanos do Sul Fluminense” que buscou vivenciar a história do povo preto a partir das obras e da visão dos membros das comunidades quilombolas, para fortalecer sua cultura e oralidade.
O projeto é uma iniciativa que faz parte do “Projeto a DPU vai aonde o povo pobre está” e contou com a participação de representantes das comunidades quilombolas do Sul-Fluminense e Costa Verde, defensoras/es, pesquisadoras/es, professoras/es, militantes e do autor do livros CUMBE e ANGOLA JANGA, Marcelo D’Salete.
A atividade faz parte da Ação Cultural realizada a partir da aquisição e distribuição às comunidades quilombolas de centenas de exemplares das obras (HQ) CUMBE (mostra a resistência contra a violência das senzalas brasileiras) e ANGOLA JANGA (conta a história do maior quilombo brasileiro, Palmares, marco de resistência na luta contra a escravidão), do escritor Marcelo D’Salete que é professor, ilustrador e quadrinista, graduado em artes plásticas e mestre em história da arte.
Em formato de quadrinhos, as publicações fazem um resgate histórico e da ancestralidade de forma lúdica.
A aproximação das obras com a DPU foi feita pela coordenadora nacional do Grupo de Trabalho (GT) de Políticas Étnico Raciais da DPU, Rita Cristina de Oliveira. O GT buscou incorporar essas obras como material didático do Ministério da Educação, sem sucesso, devido ao momento político de hostilidade à história afro-brasileira que ainda perdura.
Após as falas iniciais dos apoiadores do projeto, o encontro teve como dinâmica a fala de um representante de quilombo seguida do comentário de Marcelo D’Salete. Um dos pontos ressaltados é que a história do Brasil foi feita a partir do apagamento da história afro-brasileira e indígena, reafirmando a necessidade de lutar contra esse apagamento.
Algumas lideranças apresentaram por meio de vídeo como foi a distribuição do livro nas comunidades e a sua dinâmica de estudo. No quilombo de São José da Serra, em Valença, as crianças foram divididas em dois grupos e, após a leitura do livro, foi realizada uma atividade cultural. Para Amauri Fernandes, representante do quilombo, as obras conseguem ser simples e complexas ao mesmo tempo. “Contar a história do povo negro é contar uma história que ninguém conta”.
Também foram destacados os sentimentos de identificação, pertencimento e intimidade com as/os personagens do livro. Débora Santos, do Quilombo Alto da Serra em Rio Claro, pontuou que apesar de parte da sociedade tentar apagar a história de Palmares e a sua luta, não conseguem, pois existem dentro de cada quilombola. Na comunidade do Marambaia em Mangaratiba, o foco da leitura foi com os adolescentes e jovens adultos para reforçar a importância de formar novas lideranças. Após a leitura do livro fizeram poemas e pinturas sobre a temática. De acordo com seu representante, Nilton Carlos Alves, a luta e a resistência são muito fortes no local, que é contestado continuamente. No quilombo do Bracuí em Angra dos Reis, após a leitura do livro fizeram um passeio com as crianças mostrando alguns pontos históricos que também existem no livro, como as ruínas e o alambique. A comunidade quilombola Santa Justina- Santa Isabel em Mangaratiba também passou um vídeo sobre a entrega dos livros.
Assista ao encontro na íntegra:
Além dos representantes das comunidades quilombolas e o autor do livro, estiveram na mesa de abertura do evento os/as apoiadores/as do projeto:
- Anna Beatriz Bernardes Nunes, presidenta da Associação das Comunidades Quilombolas do RJ.
- Maria de Fatima da Silveira Santos, do Centro de Referência de Estudos Afro-Brasileiros.
- Marcele Maria Ferreira Lopez, professora voluntária e membro da equipe pedagógica do pré-vestibular cidadão do Projeto de Educação Popular Ética na Política de Volta Redonda- MEP.
- João Helvécio, Defensor público e representante do Fórum Justiça.
- Professor Luís Abegão, representante da Universidade Federal Fluminense, campus Volta Redonda.
- João Juliano José Francisco, coordenador nacional do GT Comunidades Tradicionais.
- Rita Cristina de Oliveira, coordenadora nacional do GT de Políticas Étnico Raciais da DPU.;
- José Roberto F. Tambasco, defensor público federal e representante do GT Comunidades Tradicionais.
- Benini Ferreira, defensor público federal e representante do GT Comunidades Tradicionais.