Fórum Justiça

Pesquisa Revela que Equidade de Gênero e Raça nos Tribunais Segue Baixa Apesar de Normas do CNJ

Pesquisa Revela que Equidade de Gênero e Raça nos Tribunais Segue Baixa Apesar de Normas do CNJ

29/08/2024

Compartilhe!

Mesmo após a criação de normas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a garantia de equidade de gênero e raça nos tribunais estaduais do país, a adesão a essas políticas ainda é baixa e faltam mecanismos de fiscalização para torná-las efetivas. É isso que revelam dados de uma nova pesquisa realizada pelo Fórum Justiça, por meio do projeto ColetivAmente, com apoio do JUSTA e da Themis. 

O lançamento do estudo ocorre na Casa de Francisca nesta quinta-feira (29) e contou com a participação da juíza Karen Luise, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e do CNJ, a escritora Cida Bento, diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, e Mariana Yoshida, pesquisadora e juíza do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul (TJMS). A iniciativa marca o primeiro passo de uma mobilização essencial, protagonizada pela sociedade civil, que se posiciona por um sistema de Justiça mais democrático e inclusivo. 

Publicada em 2018, a Resolução CNJ 255 estabelece que todos os Tribunais de Justiça devem tomar medidas para incentivar a participação de mulheres em cargos de liderança, comissões de concurso e como palestrantes em eventos institucionais.

O levantamento do Fórum Justiça, no entanto, mostra que apenas cinco dos 27 tribunais aderiram totalmente a essa norma, enquanto nove aderiram parcialmente. Outros 13 não prestaram informações suficientes para que se chegasse a uma conclusão.

No caso da equidade racial no Judiciário, essa política é regida pelo Termo de Cooperação Técnica (TCT) 53/2022, que depende da adesão de um tribunal para que as obrigações assumidas passem a produzir efeitos. 

O TCT firma o Pacto Judiciário pela Equidade Racial e visa fomentar programas, iniciativas e ações baseadas nos eixos de promoção da equidade racial, desarticulação do racismo institucional, sistematização dos dados e a articulação interinstitucional e social para uma cultura antirracista.

A pesquisa constatou que apenas sete tribunais aderiram totalmente às medidas. A maioria dos TJs sequer forneceu informações suficientes para o levantamento, o que demonstra falta de transparência.

Apenas o Tribunal de Justiça do Paraná informou ter aderido completamente a ambas as políticas.

“Uma grande ressalva em relação ao estudo é o baixo índice de respostas dos tribunais aos pedidos de informação, que são respaldados pela Lei de Acesso à Informação. O TJSP, por exemplo, não respondeu a nenhum dos nossos pedidos”, avalia Gabrielle Nascimento, Assistente de Pesquisa do Fórum Justiça, que coordenou a pesquisa com Ana Paula Sciammarella, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “Os critérios que utilizamos para tentar estabelecer um panorama para a aderência das normativas nos tribunais na pesquisa são objetivos, mas acendem esse alerta para que possamos ampliar e qualificar as avaliações sobre o comprometimento das instituições com medidas para promoção da equidade de gênero e raça”, reforça Nascimento.

O estudo foi feito através de questionários enviados aos tribunais via Lei de Acesso à Informação, entre os dias 15 e 16 de dezembro de 2023. Ao todo, 14 estados enviaram respostas para questionamentos sobre equidade de gênero e 17 estados enviaram respostas para questionamentos sobre equidade de raça. 

O projeto ColetivAmente é um eixo de análise e atuação do Fórum Justiça sobre as desigualdades de raça e gênero no sistema de Justiça. Por meio de uma abordagem interseccional, o projeto busca fortalecer a articulação de mulheres e pessoas negras nas carreiras jurídicas e produzir conhecimento sobre o tema.

>> Leia o resultado completo da pesquisa.

Monitoramento e Aperfeiçoamento

A Resolução CNJ 255/2018 e o Termo de Cooperação Técnica 53/2022 não preveem a criação de estruturas ou organismos específicos para monitoramento e internalização das políticas que tratam. Mesmo assim, alguns tribunais estabeleceram a criação de espaços próprios para acompanhamento e aperfeiçoamento das políticas.

A pesquisa do Fórum Justiça e do ColetivAmente mostra que cerca de 40,7% dos tribunais estaduais criaram estruturas institucionais específicas para política de participação feminina. Outros 7,4% incorporaram essa política a estruturas já existentes, enquanto 51,9% não informaram qualquer criação ou incorporação de novas estruturas relacionadas à política de participação feminina.

Nos tribunais que criaram novas estruturas para a garantia de equidade de gênero, 50% formaram grupos de trabalho. Cerca de 37,5% dos tribunais instituíram Comitês de Incentivo à Participação Feminina, e 12,5% estabeleceram comissões específicas para gestão da política de equidade de gênero.

Em relação ao Pacto Judiciário pela Equidade Racial aproximadamente 22,4% dos tribunais criaram estruturas específicas, sendo que a mesma porcentagem já possuía órgãos existentes responsáveis pelo monitoramento e coordenação dessa política. No entanto, mais de 55% dos tribunais não responderam sobre a existência de tais estruturas.

Entre os tribunais que implementaram novas estruturas, 66,7% optaram pela criação de grupos de trabalho, enquanto 16,7% estabeleceram comitês e outros 16,7% formaram grupos de estudos sobre equidade racial.

Acesso à Justiça

A equidade de gênero e raça no judiciário é uma das principais ferramentas de garantia da democratização do acesso à Justiça no Brasil – política defendida pelo Fórum Justiça ao longo de mais de uma década. 

O novo estudo feito pelo FJ reforça que é crucial garantir estruturas organizacionais dedicadas ao acompanhamento e monitoramento da implementação dessa diversidade, além de fortalecer a formação em desigualdades nas escolas judiciais. O Poder Judiciário precisa avançar na institucionalização das políticas nacionais de diversidade dentro do exercício jurisdicional.

A partir dos dados recentes, é necessário investigar e compreender agora quais os temas e estados que enfrentam maior resistência à implementação dessas políticas e os modelos mais facilmente absorvidos e efetivos.

Sobre o Fórum Justiça

O Fórum Justiça é uma organização criada em 2011, no Rio de Janeiro, em uma iniciativa promovida por integrantes do sistema de Justiça, movimentos sociais e academia. A articulação visa contribuir para a construção de uma Justiça democrática, comprometida com a realização dos direitos humanos e orientada pelas demandas dos grupos historicamente vulnerabilizados em nossa sociedade.

Com representantes em diversos estados do país, o Fórum Justiça tem como visão ser um espaço plural e apartidário de articulação, formação e referência na produção de pesquisas, avaliações e propostas de políticas públicas de Justiça.

Download WordPress Themes
Download Best WordPress Themes Free Download
Free Download WordPress Themes
Free Download WordPress Themes
free online course
download samsung firmware
Download WordPress Themes
ZG93bmxvYWQgbHluZGEgY291cnNlIGZyZWU=