Fórum Justiça

Diria Boaventura de Sousa Santos: “Temos o direito a ser iguais, quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes, quando a nossa igualdade nos descaracteriza”¹. Com o objetivo de enaltecer as lutas étnicas travadas principalmente pelo Movimento Negro, o Direito Para Quem? apresenta a campanha «Estamos chegando», que junta na mesma imagem fotos de negros lindos, que assumem sua origem de cabeça em pé, e sentem na pele, diariamente, o que é, ainda, a luta pelo reconhecimento no País, com frases do compositor e cantor Milton Nascimento em parceria com Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra. A campanha terá 12 montagens e postaremos duas todos os dias, até o 20 de novembro, referenciado como o Dia Nacional da Consciência Negra, dedicado à reflexão da inserção do negro na sociedade brasileira, e quando acontecem vários eventos promovidos em prol dessas reflexões. É possível dizer que novembro seja o mês da Consciência Negra, pela ansiedade e urgência de tais discussões, e por isso já estamos lançando a campanha e os convidando a vir conosco! A música chama-se «A de Ó (Estamos Chegando)», e aparece no disco Missa dos Quilombos, de 1982. É possível conhecer um pouco mais sobre o que foi essa missa, promovida no dia 20 de novembro de 1981, para um público de 8 mil pessoas no Recife (PE), por Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, e música de Milton, com algumas pesquisas na internet. Aos que dizem que «o racismo não existe no Brasil», sugerimos que conversem um pouco com os negros que encontrarem pelos caminhos. Escutem, estejam abertos às discussões. É através do diálogo que conseguiremos entender em que locais se legitimam a violência contra etnias, mas também contra os pobres, contra os gays, contra as mulheres, e contra tudo que difere do homem branco, rico, ocidental e heterossexual. Esta campanha, no entanto, traz a tona uma luta muito antiga, que vem alcançando notória força e alguns significativos avanços, mas que não pode desanimar. Afinal, como diria o professor Idelber Avelar, «se há uma lei universal no combate, é a de que as coisas sempre podem piorar»². Por enquanto, só nos resta continuar esbravejando e sonhando com uma sociedade onde o racismo não passará de uma referência histórica. Com uma sociedade livre dessa «monstruosidade racista que são nossas prisões, escolas, polícias, ruas, hotéis e entrevistas de emprego». «Estamos chegando» tem um duplo sentido. Os negros já chegaram. Na música, na arte, no esporte, nas grandes lutas e na nossa cultura em geral. O racismo ruirá no dia em que percebermos a importância da cultura negra na constituição do nosso país. De Machado de Assis à Chiquinha Gonzaga, passando por Cartola, Pelé, Manoel Congo, Zumbi e Marianna Crioula; nossos grandes homens e mulheres foram e são negros. Apesar disso, há uma disparidade enorme de participação entre negros e brancos em nossa democracia, que reflete nas universidades e nos cargos públicos. As conquistas recentes do movimento negro e as discussões acaloradas que propiciaram mostram que ainda há muito por vir. Cheguemos juntos!

1. Boaventura de Sousa Santos. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. Aqui: http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Concepcao_multicultural_direitos_humanos_RCCS48.PDF

2. Idelber Avelar. Sobre algumas vitórias recentes da luta afro-brasileira. Aqui: http://revistaforum.com.br/idelberavelar/2012/06/26/sobre-algumas-vitorias-recentes-da-luta-afro-brasileira/

Por fim, um agradecimento muito especial ao fotógrafo Marcio Oliveira (/moliveirafoto), que cedeu seu trabalho à causa. Todo o belíssimo ensaio fotográfico foi feito por ele. Agradecemos também aos companheiros que toparam fazer o ensaio, os quais mencionaremos individualmente durante as postagens.

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