Fórum Justiça

Vivências II, missão cumprida

05/11/2013

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NOTA: Compartilhamos esse belo relato do professor Adriano Pilatti acerca de uma experiência exitosa de aproximação de universitários com os movimentos sociais, na esperança de que inspire práticas semelhantes e contribua para a formação de profissionais comprometidos com as necessárias transformações sociais em nosso país!

Encerramos hoje (27 de outubro) no Assentamento Roseli Nunes, Piraí fluminense, a 2ª edição do Projeto Vivências, concebido pela brava colega e amiga das barricadas Mariana Trotta, e instituído por Luiza Helena Nunes, diretora do Serviço Social, e Francisco Guimarães, do Direito da PUC-Rio, com entusiasmado apoio dos jesuítas.

Ao longo de duas noites e dois dias, nosso(a)s 20 e poucos estudantes se hospedaram nas casas dos agricultores, conviveram e trabalharam com eles. Colheram aipim, plantaram milho, puxaram água, cozinharam, trançaram balaios, limparam quintais. Fizeram excursão pela mata para colher as ervas curadeiras, riqueza infindável de nossa biodiversidade, que o assentado Daniel, por isto mesmo chamado de Bruxo, sabe identificar e utilizar com mestria de fitoterapeuta intuitivo, herdeiro de uma tradição imemorial.

Antes do almoço bom demais, preparado em mutirão, a conversa derradeira. O jovem e abnegado líder Marcelo (em pé, boné vermelho, à esquerda rs), fez o balanço do transcorrido entre outubro do ano passado, na primeira vivência, e agora. Duro, aflitivo – não o Marcelo, sempre uma simpatia, inda mais agora que vai ser pai, mas o balanço: os problemas com o INCRA e a Light, velhos de 7 anos, e já terríveis em 2012, permanecem os mesmos. O INCRA protela a expedição dos títulos, e sem eles a Light não “liga” a luz, que sobra nas fazendas dos poderosos vizinhos. Vamos entrar nessa, na face extensão-intervenção do Projeto.

Mas os problemas permanecem também quanto ao escoamento da produção, não há apoio, o que torna os produtores assentados em toda a região dependentes da extorsão dos atravessadores. Crédito rural, assistência técnica? Zero. Só o posto de saúde melhorou um pouco. Definitivamente, a reforma agrária não é prioridade para esse Governo cada vez mais irreconhecível.

Nos relatos informais do(a)s estudantes ao longo do almoço, a comovida vontade de fazer algo que possa ajudar, de retribuir a acolhida. O orgulho de ter arrancado do chão o dourado aipim que agora se desmanchava em nossas bocas. A percepção das contradições demasiadamente humanas de toda comunidade, a humanização do(a) personagem “agricultor(a) sem terra” em sua grandeza e pequenez, em suas vidas de feitos e desilusões, união e desmobilização, solidariedade e conflito. A constatação de que as questões de gênero e idade estão em toda parte. A decepção com um modelo de Estado que só existe nas peças publicitárias.

Na hora da partida, depois da bela fala do assentado “Padre”, quanta dificuldade para encerrar as despedidas. As meninas escondendo as lágrimas pra aparentar alegria diante das crianças que choravam já de antecipada saudade. Camponeses e puqueanos irmanados em longos e comovidos abraços, tirando intermináveis fotografias. Sorrisos e nós na garganta, olhos sempre brilhando. Os vínculos se tecem e a espécie se reaproxima de si mesma, quanta compreensão de que as barreiras que separam humanos de humanos são ridículas e absurdas se viu por ali.

Valeu, companheiro(a)s do MST, valeu, generoso(a)s menino(a)s da bela PUC-Rio, valeu compas. Arrancamos da indiferente roda do destino mais um pequeno naco de eternidade e mudança. Criamos outra leva de parcerias improváveis até anteontem. Reduzimos um centímetro do tamanho do abismo que separa ricos e pobres em terras fluminenses. Constituímos mais um pouco de comum. Podemos descansar por hoje.

Adriano Pilatti

 

Leia mais sobre a preparação para a Vivência:

6 outubro 2013

Chegando em casa, depois de um sábado pra não esquecer no pólo avançado da PUC-Rio na Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Saímos da Gávea às 8:30, mais de 30 aluna(o)s – maioria docemente esmagadora de meninas, viva elas! – da graduação em Direito, Serviço Social, Pedagogia e Comunicação. Entre ela(e)s, Dona Zica,  militante dos movimentos fundiários e de domésticas de Bangu, aluna do 4º período de Serviço Social, 80 anos de idade e lutas! Chegamos no paraíso da Mata Atlântica perto do fim da manhã, recepcionados pelo valoroso Flavio, ex-aluno na PUC,  administrador da área (e também corpo, alma e inspiração do valoroso bloco carnavalesco A Rocha da Gávea, a alegria é a prova dos nove!). Depois do bom café com pão e saborosos recheios, a bela explicação do companheiraço  Flavio sobre a história da região, que abrigou fazendas de “engorda” de escravos e porto de escoamento de ouro e gente para o Rio. Começamos então o trabalho “duro” (foto), uma preparação da(o)s menina(o)s para a segunda Vivência que organizamos (a primeira ano passado) no Assentamento Roseli Nunes, Piraí, nascido de ocupação do MST em gleba abandonada entre fazendas de poderosos da cartolagem e da política, que acontecerá no último fds de outubro: de sexta a domingo, a(o)s futura(o)s advogada(o)s, magistrada(o)s, promotora(e)s, assistentes sociais, jornalistas e pedagogas farão uma imersão no assentamento, hospedados nas casas dos agricultores, para experimentar o cotidiano, as lutas, dificuldades, labutas, esperanças e realizações das famílias resgatadas da exclusão pela resistência. Na primeira parte, fiz síntese da questão agrária no Brasil, do período colonial à Constituinte de 1987-88, e a ex-aluna, valorosa colega e incansável militante Mariana Trotta expôs as dificuldades e desafios da reforma agrária em terras fluminenses.Depois, o primeiro “rolê” pelo sítio e o delicioso almoço no refeitório, com arroz, feijão, o melhor aipim do Rio, frango, bolinho de legumes, salada, refresco de caju e uma adorável delícia de limão na sobremesa (clandestinamente, devo confessar, provei as três variedades de cachaça das Minas profundas, que Flavio guarda a sete chaves rs).  Na volta, aula-relâmpago sobre manejo de serpentes (as naturais, menos assustadoras que as políticas e acadêmicas), que despertou a previsível gritaria entre a mulherada (em breve, meu momento Alice Cooper aqui…). Depois, explanações sobre a história da ocupação e do assentamento Roseli Nunes (em homenagem à personagem título do contundente documentário Terra para Rose, tem no iutube),  feita tb por Mariana, e instruções práticas sobre a Vivência feitas pelo ex-aluno e militante Renato. Pra encerrar, a bela fala-síntese de Luiza Helena, diretora do Serviço Social, criadora das Vivências, força motriz e inspiração de tudo que a PUC-Rio faz de melhor em extensão para os pobres e excluídos do Rio e Baixada. Esclarecimento, emoção, sensibilidade despertada para os pequeninos que lutam, a fim de estimular na garotada “essa contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje”, de que falou insuperavelmente o centenário Vinicius de Moraes. Já no Rio, noite instalada, nada mais decente do que brindar a “jornada vitoriosa” (apud Fabio Zardo) com algumas geladíssimas no Pires, ex-Rainha do Mar, Gavea.  Muito mais do que a exaustão (de sábado passado a este estive em Caxias, Cinelândia, Sampa, Porto Alegre/São Leopoldo e Nova Iguaçu a propagar a luta pelos direitos), o que circula agora nas veteranas veias é a alegria da entrega incondicional ao desejo de contribuir para a construção de um mundo que certamente não verei, mas não importa: ele virá, pelas mãos dessa(e)s menina(o)s, dessa jovem octogenária, e da(o)s que virão depois dela(e)s. Viva a vida, viva a resistência, viva o poder constituinte que há 25 anos fincou nova estaca de Direito na luta pela Justiça! Boa noite e boa sorte!

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