Fórum Justiça

Negociada por um terço de seu valor inicial, CSA vira problema no Rio

08/01/2013

Compartilhe!

Após dois anos e meio de problemas ambientais, sociais e trabalhistas, siderúrgica controlada pela empresa alemã ThyssenKrupp é oferecida por € 3,9 bilhões

Sucessão de erros de planejamento e conjuntura desfavorável transformaram parque industrial da CSA em fisco econômico (ThyssenKrupp/divulgação)


Rio de Janeiro – Definida como um “empreendimento histórico” pelo governo do Rio de Janeiro quando começou a operar, há dois anos e meio, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) consolidou em 2012 seu lugar entre os maiores fiascos da história do mercado brasileiro. Controlada pela empresa transnacional alemã ThyssenKrupp (73,13%) em sociedade com a brasileira Vale (26,87%), a usina sempre contou com a generosidade do BNDES e o alívio fiscal do governo estadual, mas desde o início de sua construção acumulou problemas sociais, ambientais e trabalhistas. Agora, em meio a uma profunda crise de seu principal controlador, está à venda por um terço do valor que lhe era atribuído em 2010.

A Thyssen quer vender sua parte na CSA e também uma usina “irmã” para processamento e laminação do aço brasileiro que construiu no Alabama com o objetivo de atender à indústria automobilística dos Estados Unidos. O investimento em ambas, que formam a divisão Steel Americas, foi de € 12 bilhões, segundo os alemães, mas a empresa aceita vendê-las por € 3,9 bilhões. Quando os dois projetos foram lançados, ainda antes da crise financeira global, havia forte otimismo quanto ao desenvolvimento do mercado do aço no continente, mas a realidade em 2012 revelou uma retração na demanda que causou um excedente mundial estimado em mais de 500 milhões de toneladas do produto.

O contexto negativo do mercado, aliado a “avaliações prévias excessivamente otimistas” sobre o projeto, como admitiu a direção da Thyssen, fez com que a Steel Americas registrasse este ano um prejuízo de um bilhão de euros, causado em grande parte pela CSA. Esse resultado compôs o impressionante total de € 4,7 bilhões em perdas líquidas no ano fiscal corrente, anunciado pela direção da Thyssen no último dia 10.

No período anterior (o ano fiscal na Alemanha se encerra em setembro), a empresa alemã já havia acumulado perdas de € 1,3 bilhão. O péssimo momento fez com que a Thyssen anunciasse que em 2012, pela primeira vez, não pagará dividendos anuais aos seus acionistas.

Elevado ao cargo somente quando a aprovação da criação da Steel Americas já havia sido decidida, o atual presidente-executivo do ThyssenKrupp, Heinrich Hiesinger, demitiu metade da diretoria do grupo no início de dezembro. Boa parte dos demitidos integrava o grupo de “entusiastas” em relação aos investimentos no Brasil: “O desastre da Steel Americas mostrou que nossa cultura de liderança fracassou. Se continuarmos com o negócio, estaremos cometendo um grande erro”, disse Hiesinger.

Possíveis compradores
Espera-se que a venda da fatia da CSA pertencente à Thyssen seja concluída no primeiro trimestre de 2013. Até agora, a direção da empresa já manteve contatos e fez reuniões com um importante leque de possíveis compradores. Estão no páreo as gigantes Techint (Argentina), Baosteel (China), Arcelor-Mittal (Bélgica/Índia), Nippon Steel (Japão) e Posco (Coréia do Sul). Correndo por fora, estaria a brasileira Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), possivelmente estimulada pela presidenta Dilma Rousseff, que desejaria o controle nacional sobre a CSA. O Palácio do Planalto não confirma essa informação.

Após a definição do comprador, a Thyssen ainda precisará do aval do BNDES para concluir o negócio, já que os créditos do banco destinados – e já desembolsados – à CSA montam a R$ 2,4 bilhões. Uma equipe de técnicos do BNDES fará um estudo de avaliação de riscos após a escolha do novo controlador majoritário da siderúrgica. Se o banco concluir que o escolhido apresenta riscos de não reembolso dos empréstimos concedidos, a Thyssen será obrigada a quitar toda sua dívida antes de concretizar a venda.

O novo dono da CSA terá de negociar também com o Governo do Rio de Janeiro, uma vez que os incentivos fiscais dados à usina fazem parte de uma lei aprovada a partir de um acordo feito exclusivamente com a Thyssen e precisarão ser renegociados. Até 2010, a empresa já recebeu do governo um alívio fiscal ligeiramente superior a R$ 700 milhões por intermédio do programa Rio Invest, que permite à CSA pagar apenas 30% do valor total de seu ICMS.

A negociação envolverá também a garantia de que um dos dois alto-fornos da usina não será desativado. “Vamos retirar todos os incentivos à CSA se o novo dono desligar um alto-forno”, avisa o governador Sérgio Cabral, preocupado com a queda de produção da siderúrgica, hoje estimada em 5 milhões de toneladas de placas de aço anuais. No meio do ano, quando a Thyssen anunciou sua intenção de desligar um dos dois alto-fornos, Cabral já havia feito essa mesma advertência aos alemães.

Meio ambiente
O possível desligamento do alto-forno não foi a única dor de cabeça causada pela CSA ao longo destes dois anos e meio. O já conhecido descaso da Thyssen com o meio ambiente, materializado no Rio pela extensa supressão de manguezal para a construção da usina e pelo comprometimento da capacidade pesqueira na já combalida Baía de Sepetiba, entre outros fatores, atraiu a profunda oposição do movimento socioambiental e algumas ações movidas pelo Ministério Público Estadual. Para piorar, a empresa alemã foi acusada de contratar milicianos armados com o intuito de intimidar pescadores da região que se manifestavam contra o impacto sobre a pesca artesanal, meio de vida de milhares de pessoas na região.

Já em funcionamento, a CSA foi autuada e multada pelo governo do Rio por atentar contra a saúde pública depois que por três vezes – em dezembro de 2010, maio de 2011 e outubro deste ano – uma fuligem metálica extremamente tóxica expelida pelos seus alto-fornos cobriu diversos quarteirões do bairro de Santa Cruz, vizinho à usina. Reincidente, a empresa já foi multada pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em mais de R$ 20 milhões. “Já foram três cartões amarelos, mas nossa paciência com a CSA se esgotou. O próximo passo é a suspensão das atividades”, diz o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.

Problemas trabalhistas
Problemas trabalhistas também perseguem a CSA desde sua origem, quando um inusitado episódio de contratação e “importação” de operários chineses para trabalhar na construção da usina provocou a ira das centrais sindicais. Uma ação do Ministério Público do Trabalho resultou na assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por parte da empresa. Atualmente, a CSA tem 5,5 mil empregados diretos, segundo a Thyssen.

Para cumprir o TAC, mesmo em meio ao processo de venda, a CSA anunciou em dezembro que destinará R$ 4,5 milhões nos próximos três anos para a qualificação profissional de seus empregados. Os cursos serão ministrados pelo Senai, sob a vigilância do MPT, que fará sua primeira avaliação já em janeiro de 2013. A usina também está impedida de contratar trabalhadores estrangeiros para funções que não envolvam assistência técnica ou transferência de tecnologia.

http://www.redebrasilatual.com.br/temas/economia/2012/12/negociada-por-um-terco-de-seu-valor-inicial-csa-vira-problema-no-rj

Premium WordPress Themes Download
Download Nulled WordPress Themes
Premium WordPress Themes Download
Download WordPress Themes Free
free download udemy course
download lava firmware
Download Best WordPress Themes Free Download
udemy paid course free download