Fórum Justiça

Uma triste coincidência

10/09/2012

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Por Luciana Bento

Moradores indignados com a violenta ação policial ocorrida na Maré fazem protesto na avenida Brasil (Foto feita por morador da Maré)

A coincidência não poderia ser mais triste: no dia em que seria realizada a Conferência de Direitos Humanos da Maré, a Polícia Militar faz uma operação na favela e mata dois jovens.
A programação da Conferência foi substituída por uma reunião, no Centro de Artes da Maré, para discutir estratégias de mobilização e denúncia de mais este caso absurdo de violência policial ocorrido na Maré.
O camburão blindado da Polícia Militar chegou cedo à Maré. Por volta das 8h30 da manhã já havia troca de tiros entre policiais e traficantes, causando pânico aos moradores que saíam de suas casas – seja para trabalhar, seja para estudar, seja para ir à feira ou simplesmente cuidar de seus afazeres.
Relatos de moradores mostram que a ação policial desconsiderou a presença de pessoas inocentes nas ruas e uma saraivada de balas foi disparada a esmo, atingindo dois jovens.
Um deles, Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, estava indo para o trabalho quando foi atingido por uma bala e colocado em um camburão da Polícia Militar ainda com vida. Ele estava com todos os seus documentos no bolso, segundo relatou sua mãe, Elza de Souza. Mas Fabrício foi registrado, já morto, como indigente no Hospital Geral de Bonsucesso.
A mãe, ainda chocada com o fato, foi acolhida no Centro de Artes da Maré e levada à delegacia, junto com dezenas de pessoas, para registrar queixa.
“Com este acontecimento, a construção de um Plano de Direitos Humanos da Maré ganha ainda mais importância”, disse a diretora da Redes Eliana Silva. “Temos que pensar a segurança pública a partir das necessidades dos moradores da favela, que tem que ser respeitados e protegidos como um morador de qualquer outra região da cidade”.
Eliana lembrou a diferença de tratamento da imprensa, por exemplo, quando ocorre uma tragédia que mata um jovem da zona Sul e quando um jovem da favela é assassinado, como aconteceu hoje. “É inadmissível que a vida de um jovem do Leblon tenha mais valor do que a vida de um jovem da Maré”, alertou.
O evento foi organizado pela seguintes instituições: Instituto de Estudos da Religião (Iser), Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas.
Protesto na Avenida Brasil
Indignadas, as pessoas se dirigiram ao Batalhão da Polícia Militar e como não obtiveram qualquer explicação, foram até a Linha Vermelha e posteriormente para a Avenida Brasil, onde fizeram uma manifestação.
Caixas de madeira foram queimadas, em sinal de protesto. A Tropa de Choque chegou em seguida, reprimindo a manifestação – inclusive jogando spray de pimenta nos moradores.

Roubo na casa de dona Deuzenir

Esta foi a cena encontrada por dona Deuzenir ao voltar para casa: pertences revirados e roubo de 1460 reais. (Foto tirada por morador da Maré)


Para completar esta triste história, uma moradora teve sua casa invadida por policiais enquanto ela trabalhava em sua barraca na feira da Maré. A porta estava trancada e foi aberta com uma chave mestra.
O cômodo que fica no segundo andar foi revirado e 1.460 reais da moradora, que estavam sendo economizados para a realização de uma cirurgia de catarata, foram roubados.
Todos os fatos ocorridos hoje foram registrados na delegacia e seus desdobramentos serão acompanhados por um advogado contratado pelas entidades organizadoras da Conferência de Direitos Humanos, entre elas a Redes da Maré.
“Não podemos apenas nos indignar, é preciso reagir a estes absurdos e mostrar que a população não aceita este tipo de comportamento da Polícia, que deveria proteger os moradores”, finalizou Eliana.
Os organizadores da Conferência redigiram uma nota onde manifestam a indignação diante dos acontecimentos. Leia abaixo:

NOTA INFORMATIVA DA “CONFERÊNCIA LIVRE PLANO DE DIREITOS HUMANOS DA MARÉ”
“Hoje, dia 1º de setembro de 2012, às 8 horas da manhã, durante a preparação da “Conferência Livre do Plano de Direitos Humanos da Maré”, segundo relatos de moradores da Nova Holanda, no Complexo da Maré, dois jovens foram baleados. Ambos morreram.
Causa estranheza o fato de que, ao invés de serem levados imediatamente para uma unidade de atendimento emergencial de saúde para receber socorro, foram levados para o Batalhão de Polícia. Conseqüentemente os moradores se mobilizaram para expressar sua indignação com o ocorrido através da intercepção do tráfego na Av. Brasil.
Os organizadores e participantes da “Conferência Livre de Direitos Humanos da Maré”, em solidariedade e apoio ao trágico evento vêm manifestar sua indignação, contribuir com a coleta de dados das testemunhas e exigir esclarecimento dos fatos por parte do poder público.
É emblemático constatar que uma Conferência voltada para a criação de um Plano de Direitos Humanos tenha se transformado numa articulação de resistência.
Esse acontecimento, marcado pela morte de dois jovens, infelizmente muito comum em regiões específicas da cidade, só enfatiza a urgência de continuar os debates e a luta pelo respeito e a garantia dos direitos humanos.”
http://redesdamare.org.br/?p=5118

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